Decidi
partilhar a pior experiencia da minha vida!
Não
quero fazer-me de coitadinha, longe de mim! Quero apenas partilhar para que quem
passa por algo semelhante não se sinta tão sozinha! Porque dói, demais até e
nenhuma mulher que deseja tanto ser mãe merece passar por isso!
Aqui
vai!
Abril
2011
Três
dias de atraso. Era frequente acontecer…
O
primeiro café da manhã não me passava na garganta e o cheiro do primeiro
cigarro que acendi causou-me náuseas.
“Bolas,
outra crise de vesícula”, pensei. Os sintomas eram os mesmos, embora há muito
tempo que não as tivesse…
Comecei
a matutar… Atraso, náuseas, e se não for a vesícula a dar de si?
Fiz
um teste! Positivíssimo! Estava gravida! Não consegui guardar a notícia para
quando o marido chegasse.
Liguei-lhe!
Disse-lhe que íamos ser pais! Emudeceu! Foi apanhado de surpresa! Estava
contente, claro, mas nervoso também!
Marquei
a primeira consulta na MF, pelas contas eram 5 semanas de gente que carregava
dentro de mim! Estava a viver um sonho! O meu sonho!
Mas
a vida tem um jeito estranho de nos fazer crescer e aprender!
Acordei
numa poça, tinha perdido imenso sangue e não segurei as lágrimas que me caíam
sem cessar!
Fomos
directos ao hospital. Um descolamento de placenta enorme foi o diagnóstico!
Repousar era a única coisa que podia fazer!
Marquei
consulta no obstetra, precisava de outra opinião, talvez me tranquilizasse.
Redondamente
enganada!
Seis
semanas de gravidez e um descolamento brutal, as chances de a gravidez evoluir
eram apenas 50%...
Chorei
dias a fio, passei noites em claro… Porquê a mim? A nós?
Como
pode a vida ser tão cruel? Como pode dar-nos tamanha alegria, para logo depois
nos dar tamanho desgosto?
Consultas
semanais. O bebé não estava a evoluir, até que numa das consultas já não haviam
batimentos…
Chorei,
inconsolável… O médico tentou confortar-me. “Se aconteceu assim é porque tinha
de ser. Vamos deixar a natureza seguir o seu curso!”
Mas
até essa estava contra mim!
O
meu corpo recusou-se a expulsar aquele bebé! Era nosso, não podíamos mandá-lo
embora! A espera foi angustiante…
Partilhei
momentos de alegria com amigas, radiantes pelo nascimento dos filhos, enquanto
calava a revolta que sentia dentro de mim, por ter perdido o que mais desejava!
Chorava
sempre que via notícias de bebés abandonados à nascença, mortos à nascença,
maltratados pelos pais. Como era possível? Como era permitido a tanta gente que
não sabe ser mãe e pai terem filhos e aqueles que mais desejam poder sê-lo,
passarem pela mesma situação que eu? Ou até não conseguirem mesmo engravidar?
Junho
2011
Tive
de fazer cirurgia. Os médicos teriam de fazer aquilo a que o meu corpo se
recusava! Aproveitavam e retiravam também o mioma, o parasita que cresceu
durante a gravidez. Mais lágrimas!
Dei
entrada no hospital, 13 de Junho de 2011.
Fui
preparada para a cirurgia e esperei mais uma vez, outra longa espera!
Às
15h adormeci no bloco, para acordar no recobro umas horas depois. O médico
garantiu “ está tudo bem, limpámos tudo, agora vais para cima descansar!”
Enganou-se
redondamente! Não limparam o mais importante, a dor que estava a sentir…
Continuava lá e não parecia ter intenção de ir embora…
Perdi
um filho! Perdi parte de mim! Só quem passa por isso sabe o quanto dói!
Não
há palavras que atenuem a dor que se sente!
Tive
alta! “Daqui a três meses podem voltar a tentar” disse o Dr.
Não
queria! Estava demasiado frágil, demasiado dorida… Mas principalmente sentia
medo, muito medo que acontecesse outra vez!
Recebi
telefonemas de conforto, mensagens de carinho, mas nada amenizou a dor que
estava a sentir!
É
a dor da perda, da impotência, do fracasso!
Dói
sempre, não passa, pode atenuar, mas não se esquece nunca!
Tenho
a minha estrelinha lá em cima, a olhar por nós!
Setembro
2011
Três
meses depois, um primeiro café matinal que não consegui engolir, um cigarro que
apaguei mal o acendi e o medo tomou conta de mim, outra vez!
Não
podia ser, não estava preparada!
Fiz
o teste! Positivo!
Um
misto de sensações! Chorei de alegria e de medo em simultâneo, mas desta vez já
não gritei ao mundo que estava a gerar um ser, que ia ser Mãe!
Esperei
que o marido chegasse para lhe dar a novidade! Chorei no seu ombro com medo do
que podia acontecer…
“Vai
correr bem!” disse ele. Mal sabíamos nós…
Estava
grávida de apenas 4 semanas e aquele bebé já era o meu tudo!
Guardámos
segredo! Concordámos esperar pelos 3 meses, era mais seguro!
E
vem a vida outra vez e troca-nos as voltas!
5
semanas e 6 dias de gente.
Senti
uma dor forte na barriga e mais uma poça de sangue!
Vi
o filme todo passar-me à frente dos olhos.
Chorei
o caminho todo para o hospital e quando lá cheguei nem conseguia falar!
Fiz
uma eco! O bebé estava lá! Estava bem, tranquilo, o seu batimento no monitor tranquilizou-me!
E amei-o ainda mais nesse instante! Mas havia mais! Um descolamento, outra vez!
Não podia, era demasiado injusto!
Fui
internada, fiz análises e estas confirmaram as suspeitas do Dr.: gravidez
gemelar, mas tinha perdido um dos bebés e o outro ainda não estava a salvo!
Permaneci
no hospital uma semana e meia! Lutei com todas as forças para aguentar o bebé!
Era meu, nosso! E não ia permitir que a vida me trocasse as voltas outra vez!
Cumpri todas as indicações, levei injecções diárias, tratamentos com
progesterona, tudo por ele! Não ia ser em vão!
Finalmente a tão desejada alta! A placenta estava a colar, podia
ir para casa, com a promessa que iria cumprir com tudo o que o Dr. me indicasse.
Permaneci em repouso absoluto até ao final de Dezembro.
As consultas eram a única alteração a minha rotina e o medo
continuava a rondar!
No 4º mês de gravidez veio a tão desejada alta! Podia começar a
curtir em pleno o meu estado de graça! Podia retomar a vida normal, sem
excessos ou grandes aventuras!
Um ano e 5 dias depois de ter perdido a minha estrelinha, tive a
maior recompensa da minha vida!
Pedi a estrelinha que olhasse por ele e que me ajudasse a protege-lo!
Apaixonei-me por ele no 1º segundo que o tive nos braços e
prometi-lhe que tudo faria para que fosse feliz, sempre!
Fiquei agarrada ao pacote do lenços....
ResponderEliminar<3 lamento teres passado por isso, mas no final valeu a pena todo o sacrificio...
ResponderEliminar(Liliana Baptista, esta conta é do marido)
Minha querida Lili, valeu a pena, tenho o meu maior tesouro! Vai doer sempre, mas falar ajuda sempre a ultrapassar <3 obrigada por tudo o apoio!
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